Tanto tempo já passou e é como se nada tivesse mudado
O sorriso não veio e eu grito calado
Cada degrau tem um sabor de vertigem
A tontura me faz lembrar do futuro e prever a origem
Estou convicto daquilo que irei realizar
A dor rasga a garganta e não tenho ninguém pra contar
A cada subida parece que minha cabeça fica mais leve
Agora todo aquele ódio me parece mais breve
Me recordo quando deitava na grama e observava os aviões
Já cheguei a possuir asas em minhas visões
Sempre quis saber como é a sensação de voar
A sensação de liberdade que somente o pássaro pode contar
Nunca me senti liberto, pra falar a verdade
Sempre fui castigado e preso pela maldade
O fogo queima minha pele... O meu lar é o inferno
O único modo que tinha de me livrar da agonia eram rabiscos em um caderno
Se alguém o achar, não ouse divulgar
Não há nada de bom que se possa usar
Só existe ódio e sofrimento... Sou um ser imundo
Os degraus estão acabando... minha estadía no mundo
No alto do prédio, no alto do céu... De calça e capuz
Vivo no escuro, tenho medo da luz
Já tentei sangrar até a morte... Mudança de percurso
Daqui de cima vejo o chão... Só falta o impulso
Na beira do edifício.. Sinto o vento na cara
Finalmente sinto a liberdade.. Tardia e rara
Nunca fui santo nem anjo... Nem espero que desse salto eu possa voar
Só espero que durante a queda livre eu consiga sonhar
Queria saber qual é a sensação de um sorriso, de um abraço
Na minha breve vida, tudo que senti foi dor e cansaço
Cansei de sofrer... Quero abreviar a dor
Espero que quando eu estiver esmagado no asfalto, eu possa compreender o amor
Se é que isso existe de fato
Aqui de cima estabeleço o último contato
Escrevo com sangue essa última mensagem
Eu sempre soube que estava aqui de passagem
Cansei de inferno, quero morar lá no céu
Lá tenho um lugar me esperando... O banco do réu
Só Deus pode me julgar, acaba aqui o último capítulo
Porque na lei dos homens já sou mais um na estatística do título
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