sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Ateliê

Minha boca tremulava verdades, muito embora os olhos encharcados de mentiras, choravam as mágoas de uma face arrependida.
Lembre de nós dois como lembra de um quadro que lhe agrada.
Tudo que vivemos, fomos e seremos: moldura.
Todo nosso amor estampado, jogado e espirrado numa tela.
Cores invisíveis servem pra esconder nossos momentos mais sensíveis.
Coloque-o no museu das lembranças mais bonitas. Bem no fundo da memória.
Onde repousa o primeiro amor, a primeira dor e a nossa primeira cor.
A mais bela obra prima, ali desenhada nos momentos mais bonitos.
Cada traço que riscamos exprimem intenções que só nossos desejos mais subjetivos conseguem compreender.
Existem espaços negros para colocarmos as cores mais quentes e vibrantes daquele nosso verão alegre.
As dimensões da tela são enormes e há espaços em branco onde podemos preencher com o carinho dos amantes que já não mais se escondem.
Esqueça o lápis, os pinceis e objetos fabricados que limitem o formato da expressão.


PARCEIRIA LITERAL

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Desejos

Quero riscar as palavras do caderno
Quero o fim do frio do inverno
Quero versos novos para sentimentos não tão novos assim
Quero o calor e a alegria de um verão sem fim...
Quero bandido rico na sarjeta
Quero contato com seres de outro planeta
O que eu quero não é utopia
Não quero que botem limites em minha poesia
Quero chorar pra dar valor no sorriso
Quero rasgar todos os meus planos e viver no improviso
Não quero viver contando os meus dias
Quero esquecer as tristezas e viver de alegrias...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Conversa

O que deixava aquele homem tão inquieto?
Por que aquele sentimento de ser tão incompleto?
Todos queriam estar em seu lugar
Tinha todas as regalias que o dinheiro pode comprar
Amigos e contatos batiam em sua porta
Mas sabia que a vida que levava, andava meio torta
Trocava toda sua riqueza por aquele sentimento
Pra esquecer aquele vazio que ele sentia por dentro
Decidiu conhecer a realidade que não se passa na novela
Realidade tão distante quando se olhava pela janela
Disfarçado de mendigo, sentiu na carne o sofrimento
A angústia e o desespero daquela selva de cimento
Do luxo ao lixo, viu como era cruel aquela diferença extrema
Conheceu pessoas que viviam no lado miserável do sistema
Sentiu fome, frio, sede
Viu sua vida escorrer pelas fissuras da parede
Então simplesmente caiu
Sentou naquele chão imundo e começou a chorar
Não acreditava como um ser humano conseguia suportar
Mas de repente sorriu
Uma mão sofrida, porém acolhedora se estendeu
E aquele horrível sentimento de solidão ele perdeu
Uma senhora franzina, sem muitas posses, na verdade
Com uma voz rouca e baixa, castigada pela idade
"Não se desespere, meu rapaz
Não duvide do que Deus é capaz
Tenho certeza que algo muito bom ainda te espera
E esse sofrimento é temporário aqui na Terra
Tome, leve esse amuleto que carrego aqui no peito
Ele te iluminará quando estiveres desse jeito
É tudo que eu tenho, faça bom proveito
Em linhas tortas o Senhor escreve tudo perfeito"
O sentimento de gratidão não se expôs com as palavras
Aquilo era tão instenso que se manifestou com as lágrimas
Naquele momento percebeu o sentimento que faltava
Algo tão distante daqueles troféus em sua sala

Termino por aqui o meu singelo manifesto
Deus se manifesta é no pequeno gesto